24.12.09

OH!OH!OH!


FELIZ NATAL A TODOS!

23.12.09

Winter Break




FÉRIAS!

22.12.09

Manias

Sampirus passou-me o seguinte desafio:

"Cada bloguista participante tem de enunciar 5 manias suas, hábitos muito pessoais que os diferenciem do comum dos mortais. E além de dar ao público conhecimento dessas particularidades, tem de escolher 5 outros bloguistas para entrarem, igualmente, no jogo, não se esquecendo de deixar nos respectivos blogues aviso do recrutamento. Cada participante deve reproduzir este regulamento no seu blogue."

E cá vai então:

- Tal como toda a gente, também eu tenho um vício e, por muito excêntrico que possa parecer, é algo que tenho de realizar frequentemente: viajar. Não sou capaz de passar umas férias sem viajar, e suspeito que seja doença de família! Independentemente do terror que tenho de aviões, a paixão de viajar e de conhecer novas culturas supera qualquer medo, além do mais nada me dá mais gozo do que acordar às 5h da manhã, apanhar um táxi e correr para o aeroporto atafulhado de gentes estranhas e horários impensáveis.

- Sou viciado em fast-food, todas as quintas-feiras ao almoço vou ao McDonalds papar um McChicken menu grande, juntamente com um Sunday com dupla cobertura de chocolate.
- Odeio quando as pessoas estalam os dedos ou qualquer outra coisa à minha frente, fico mal disposto, não perguntem porquê, porque eu também não sei.

- Vomito sempre que como ou cheiro qualquer coisa que se assemelhe com manga!
- Quando falo com outras pessoas não costumo olhar para os olhos mas sim para a boca, digam o que disserem, para mim o aspecto físico mais importante de uma pessoa é o sorriso.


E, como todos os que poderia eventualmente chatear, já sei as suas manias ou suspeito quais são ahah, vou chatear outras pessoas que não conheço tão bem e pelas qual me interesso bastante:


Pii Wahnon

Andreia

19.12.09

Coca-Cola Killer

Errar é humano, perdoar também, mas não terá isto chegado apenas um pouco longe demais?

Toda a gente mente! Mente para não se saber a verdade, mente por piedade, mente porque gosta demasiado, mente para parecer bem, mente por tudo e por nada. A verdade muitas vezes é mentira. E a mentira, por tantas vezes ser mentira, torna-se verdade! Ao fim e ao cabo ninguém é quem realmente é, porque todos nós mentimos por quem somos ou por quem gostaríamos de ser, somos Pedros, Davides, Marias e Joanas, quando de facto não passamos de Ricardos, Franciscos, Paulas e Martas.

Muitas vezes o problema não está no porquê que mentimos ou a quem mentimos, mas sim na maneira como o fazemos. Mentir tornou-se tão natural como a sede, que se não for saciada torna-se de tal maneira urgente que mentimos por necessidade, por sobrevivência! Mentir é a nova concepção para diversão, sexo e negação; é o casaco que nos refugia do frio cortante que é a sociedade canonizada e preconceituosa; é um conhecido que nos visita e que acaba por nunca nos deixar, é definitivamente o nosso melhor amigo.

Um mundo sem mentiras não passaria de uma simples coincidência de verdades, uma refeição tão comum e tão ligeira que não terminaria com a fome de ninguém. E foi por isso que te perdoei!

29.11.09

Mónaco



Hoje, no meio de tanta conversa, de tanta confissão, de tanta gargalhada, decobri que poderia ter sido dono de tudo isto...


Invejoso? Chateado?
Nem um bocadinho!

21.11.09

A ti, M

Ontem o tempo passou demasiado rápido e falámos tão pouco, ou se calhar tu falaste pouco, porque só falas nos intervalos em que eu estou calado, e eu bem sei que são poucos! A verdade é que, independentemente do lugar onde estamos, do tempo que dispomos, da disposição que nos flui, tenho sempre a sensação de que não falamos o suficiente, e que há sempre algo mais para ser dito, ou finalizado. Se soubesses o prazer que é para mim poder falar contigo, sem segredos, sem tabus e ter a sensação de que, quanto mais de mim partilho contigo, mas tu gostas de mim, ficarias espantado, porque é mesmo algo que me toca. Sei perfeitamente que a nossa amizade é um tanto ou quanto invulgar, e também sei que é isso que a torna especial e memorável.


No entanto, decidi escrever-te para partilhar contigo um segredo que guardo comigo desde o dia em que me ofereceste, como presente de aniversário, aquele pequeno livro que guardo religiosamente na minha estante. Pensas que não noto que, sempre que vens cá a casa e entras no meu quarto, procuras desenfreadamente com esses teus discretos olhos, o livro que me ofereceste, e encontra-lo sempre no mesmo lugar, deitado em cima de tantos outros livros, mas sempre no topo, sempre no topo!


E, com esse pequeno livro que descreve uma amizade tão grande eu, decidi já há uns bons meses, senão anos, recolher as frases que mais se enquadram com a nossa amizade, e a verdade é que, embora sejam poucas, são as mais marcantes, tal e qual a nossa amizade:




“Os silêncios fazem as verdadeiras conversas entre amigos. Não é o dizer, propriamente, mas o não ser necessário dizer o que conta.”




“As amizades que passaram no exame do tempo e mudaram são, de certeza, as melhores.”




“Sei que, mesmo quando estou longe de vista não estou longe do coração. Os silêncios e as distâncias são tecidos na textura da verdadeira amizade.”




“Um amigo é aquele que entra quando todos os outros saem.”

20.11.09

Lisbon Revisited

NÃO: não quero nada.
Já disse que não quero nada.

Não me venham com conclusões!
A única conclusão é morrer.
(...)

Que mal fiz eu aos deuses todos?
Se têm a verdade, guardem-na!
(...)

Não me macem, por amor de Deus!

Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável?
Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa?
Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade.
Assim, como sou, tenham paciência!
Vão para o diabo sem mim,
Ou deixem-me ir sozinho para o diabo!
Para que havemos de ir juntos?

Não me peguem no braço!
Não gosto que me peguem no braço. Quero ser sozinho.
Já disse que sou sozinho!
Ah, que maçada quererem que eu seja de companhia!

Ó céu azul - o mesmo da minha infância -,
Eterna verdade vazia e perfeita!
Ó macio Tejo ancestral e mudo.
Pequena verdade onde o céu se reflecte!
Ó mágoa revisitada, Lisboa de outrora de hoje!
Nada me dais, nada me tirais, nada sois que eu me sinta.

Deixem-me em paz! Não tardo, que eu nunca tardo...
E enquanto tarda o Abismo e o Silêncio quero estar sozinho!


Álvaro de Campos
Só quero que me deixem, sozinho!
Na paz de outrora,
Sozinho.

2.11.09

Somewhere, Over the Rainbow

Esforça-te, esforça essa cabeça perra, esses neurónios enferrujados, procura dentro desses olhos inchados e desse cabelo emaranhado. Procura bem, juro-te que vais encontrar qualquer coisa daquele fim-de-semana. Procura nas roupas sujas, nos sapatos poeirentos, no saco de cama, com sorte até encontras sapos! Desbrava os fatos, as máscaras, as saias, as tintas, as maquilhagens, procura em todo o lado, e encontrarás o que sempre procuraste.

A vida que sempre sonhaste, os amigos que sempre desejaste, os segredos que sempre guardaste. Aqui tudo acontece, porque tem de acontecer, porque lá todos somos anfitriões e todos temos algo para dar. Porque lá nada é efémero e por isso ninguém acaba o que tem de acabar, para ter sempre motivo para voltar, e ficar, eternamente.

É longe daqui mas o tempo passa rápido, porque o tempo é aquilo que dele fazemos, é aquilo que dele pensamos, o tempo é apenas tempo e não mais que tempo quando assim queremos, e lá o tempo somos nós, somos as estrelas, a terra, as pedras, somos tudo o que queremos, somos nós mesmo e ainda temos tempo para ser um segundo e um terceiro, somos todos e somos um só, somos uma massa deambulante pela aquela paisagem organizada de uma maneira estranhamente aleatória. Porque sempre que lá vamos, um bocado de nós deixamos, até ficarmos lá, por inteiro, where troubles melt like lemon drops.






19.10.09

Nostalgia



Estudar ou fazer uma limpeza no hotmail? Nem é preciso dizer qual foi a resposta... Vi este e-mail, que já tinha recebido há imenso tempo e com o qual me parto a rir sempre que o releio. Já todos devem ter recebido, a verdade é que estamos sempre a pensar no que vamos ser, a que universidades nos vamos candidatar, se é melhor estudar/trabalhar lá fora ou cá dentro, onde vai ser a viagem de finalistas, quem vai ser o meu par no baile de finalistas, quando é que tenho carro ou quando é que vou morar sozinho?
Para todos os que, como eu, vivem em função do futuro, divagando no presente e esquecendo o passado, aqui vai uma tapa na pantera para avivar a memória de todos os que nasceram nos anos 90…


- Fazias aquelas coisinhas de papel para ver com quem é que te ias casar e os “quantos queres?”;

- Cantavas as musicas das Spice Girls, dos Vengaboys e dos Aqua, mas não sabias bem o que é que estavas a dizer;

- Sabias que a Power Ranger cor de rosa e o verde ainda iam acabar juntos;

- Não perdias um episódio do Dragon Ball;

- Tiveste, pelo menos, um Tamagotchi;

- Ainda te lembras da coreografia da Macarena;

- Gritavas “Olha os namorados, primos e casados!” E escrevias “K=?” para toda a gente ficar a saber de quem gostavas;

- Choraste quando a mãe do bambi morreu;

- Tururururu Inspector Gadget Tururututu!;

- Ainda te lembras de ver a tua mãe ou a tua avó a chorar a ver o 'Ponto de encontro';

- 500 escudos dava para tanta coisa!;

- 'Bem-vindos ao mundo encantado dos brinquedos, onde há reis, princesas, dragões!';

- Todas as tuas decisões importantes eram feitas com um 'pim-pu-ne-ta';

- 'Velho' queria dizer qualquer pessoa acima dos 17 anos;

- Conheciass pelo menos uma pessoa que tinha daqueles ténis com luzinhas!;

- Querias sempre um Push-pop e a tua mãe nunca te queria dar porque ficavas todo a colar!!!;

- Levaste pelo menos um sermão por teres colado o teu 'pega-monstros' ao tecto da cozinha;

- Trocavas tazzos e matutolas;

- Vias o Zig-Zag e o Buereré;

- Achavas piada ao 'quarto-escuro';

- Respondias aos insultos com 'quem diz é quem é!!';

- Lembras-te de ver os Simpsons e de não perceberes porque é que, sendo desenhos animados, não tinham graça nenhuma;

- Viste o Rei Leão, os 101 dálmatas, entre muitos outros.


Eu fazia isto tudo e vocês também, exceptuando o Miguel que ouvia Mozart em vez de Vengaboys, Aqua e Spice Girls, a Fá que morava em Macau e onde o Buéréré e o Zig-Zag eram substituídos pela aquela coisa ranhosa que tem o nome de Bleach e que ela ama e o Dudu, que nesta altura ainda vivia no Rio de Janeiro, e que é um “crido muito legal” mas está sempre no mundo dele e só dele.

6.10.09

inspirador, diferente, viciante: Muse

2.10.09

Pai



Parabéns, Pai!
amo-te muito!

24.9.09

Em cima do joelho

Estou cheio de trabalho, amanhã o dia começa cedo, como todos os outros, e acaba tarde, como todos os outros, vou morrer de sono na primeira aula e ressuscitar esfomeado na última. Vou acordar de manhã e dizer para mim mesmo que deixarei de fumar nesse mesmo dia, mas essa promessa acaba no preciso momento em que toca para o intervalo, e toda a gente corre para as mochilas e saca dos seus “nites”. Sou influenciável? Não, com certeza! Sou estúpido? Sim, com certeza!
Continuo cheio de trabalho, mas continuo a escrever, e nem sequer paro para reler o que disse, os erros ficam e as palavras a mais apagar-se-ão sozinhas, não há tempo para nada! Acordo à pressa, como à pressa, tenho aulas à pressa, chego a casa à pressa, tomo banho e janto à pressa, e agora?! Agora, quando a secretária se encontra cheia de livros e folhinhas brancas com os: a fazer, onde está a pressa? foi-se, coitada, devia estar com pressa para chegar a casa e alimentar a família, deve ter uma família enorme, uma família de pressas porque, nos escassos momentos em que a pressa não tem tanta pressa como eu e acaba por me perder, vejo que toda a gente corre, e que outras pressas atordoam outras gentes, afinal ela não me persegue só a mim, e sinto-me maníaco por ter a mania da perseguição. Sou egocêntrico? Não, com certeza! Sou estúpido? Sim, com certeza!
A verdade é que o trabalho continua todo em cima da secretária, mas eu sou do contra, e prefiro o pacato computador aos livros, e quando o computador perder o interesse corro para fora do quarto, escapando com bastante agilidade à rasteira que, com toda a certeza, a secretária me vai fazer, apanho o telemóvel e assim ficarei, entretido, como um puto, nas próximas horas. Sou infantil? Não, com certeza! Sou estúpido? Sim, com certeza!
E agora, agora que a pressa está a ver as novelas da noite, agora que a secretária ficou deitada no chão (o karaté ainda me serviu de alguma coisa!), agora que tenho o telemóvel na mão apercebo-me que ainda não disseste nada, e que nada vais dizer, já é tarde e os teus hábitos são tão usuais que nem sequer arrisco em ter a pequena esperança em como ainda me vais dizer qualquer coisa. Também não direi, embora saiba perfeitamente que, se hoje for o primeiro dia em que não dizemos nada um ao outro não será, certamente, o último.

Sou orgulhoso? Não, com certeza! Sou estúpido? Sim, com certeza!

5.9.09

Tudo o que acontece uma vez pode nunca mais acontecer...

... Mas tudo o que acontece duas vezes acontecerá certamente uma terceira. E ambos sabemos isso, sabemos que tudo o que se passou naquelas escassas horas, mergulhados nas águas escuras do atlântico, reflexo do céu carregado de nuvens, aconteceu duas vezes. E duas vezes esperava que chovesse, mas não que fossem os teus olhos a choverem, queria mais água fria a bater-me na cara, e não as tuas lágrimas salgadas a latejarem-me o coração. Tenho a estranha sensação de que só falamos por falar, porque já está enraizado em nós, e sei que, se não nos cansarmos de tanto falar, acabamos por nos cansar do silêncio, mas não arranjamos um meio-termo, nunca arranjámos. E eu afoguei-me, de ti e dos teus problemas, que tanto me fascinam e enervam.
Sempre que me deito na cama, sempre que mergulho na escuridão, com tanto medo como quando mergulho nas águas escuras do atlântico, penso em ti, penso em nós, penso nos teus problemas e o quão fácil a tua vida é, penso no que podíamos um dia ter sido e no que somos na realidade, penso no que fiz mal e no mal que tu fizeste, penso na vida, penso na morte, penso na morte depois da vida e na vida depois da morte, enfureço-me, dou um murro na parede e as coisas acalmam, depois da tempestade vem a bonança, sempre assim aconteceu, acontece com a vida, com as águas escuras do atlântico e connosco.
Quero ser mais do que teu amigo, mais do que teu confidente, e quando um homem quer muito uma coisa, todo o universo conspira para que possa realizá-la. Então porque que ela não acontece, será que não sou um verdadeiro homem? Ou não vivo no verdadeiro universo?
Tentei dispersar-me de ti, vivi a vida a correr, para que o tempo passasse mais depressa, porque quando as pessoas vivem a correr, o tempo acelera, porque o tempo não é nada mais, nada menos do que a maneira como nós o disponibilizamos, e eu fazia questão de nunca ter tempo para nada.
Mas foi tudo em vão, continuo a amar-te. O que isso significa para mim? Tudo. Para ti? Nada.

2.9.09

Portugal aos Portugueses

Um emigrante de Angola chega a Portugal - Lisboa!
No seu primeiro dia, decide sair e ver os arredores da sua nova cidade. Andando rua abaixo em Lisboa, pára a primeira pessoa que vê e diz: "Obrigado senhor português por me permitir estar neste país onde me deram casa e comida grátis, seguro, médico e educação grátis, obrigado". A pessoa sorri e reponde: "Sinto muito mas eu sou ucraniano!" O Angolano continua rua abaixo e encontra outro que caminhava na sua direcção e diz: "Senhor português, obrigado por este país tão belo que é Portugal". A pessoa responde: "Sinto muito mas eu não sou português, sou brasileiro". O Angolano continua o seu caminho e dirige-se à próxima pessoa que vê na rua, cumprimenta-o e diz: "Obrigado por este país tão belo que é Portugal". A pessoa após o cumprimentar diz: "Muito bem mas eu não sou português sou Marroquino". O Angolano continua o seu caminho e finalmente vê uma senhora morena e mais ou menos bem vestida que vem a seu encontro e pergunta: "Você é portuguesa?" A mulher sorri e diz: "Não, sou cigana e sou romena". Estranho e confuso o angolano pergunta: "Mas onde estão os portugueses?" A cigana olha-o de cima abaixo e reponde: "Espero que a trabalhar para nos sustentar".


"É a brincar que se dizem as verdades!"

25.8.09

A Casa Verde

Já era tarde, muito tarde. Já todos dormiam na casa verde excepto ele, a rua estava deserta e o vento fresco cortava o ofegante silêncio, como um relâmpago que ribomba e desaparece, na vácua escuridão. Muito lentamente, ele arrumava as últimas roupas e apetrechos na pequena mala, ansiando que o dia seguinte chegasse, que o sol finalmente, como por feitiço, nascesse, embora soubesse que a aventura decorreria muito antes da madrugada. Deitou-se na cama, repousou os olhos e quando voltou a abri-los, a aventura tinha começado.
A viagem foi indescritível, dias escaldantes e noites abafadas, lágrimas de riso, lágrimas de choro, olhos cansados de tanto e de tão pouco dormirem, peles brancas e peles queimadas, praias desertas e cidades atafulhadas, águas quentes e verdes, palácios surreais e mercados medievais, cheiros novos e bebidas exóticas, intermináveis horas de aeroportos e escalas, muita asneirada e parvoíce, assaltos a carros e lojas, “alcool drugs and rock and roll”, novas danças, novos amigos, novas línguas, novos conhecimentos, a new way of living. Aqueles escassos dias continham uma estrondosa lição de vida e o último dia chegou, tão rápido como o vento que ribombava na varanda, dias atrás.
A casa verde voltara a ter luz e aquele encanto especial que só a habitual confusão lhe dava, as janelas estavam outra vez abertas espalhando calor pelo perfumado jardim. E ele voltara à rotina, à deliciosa cama e ao seu quarto vanguardista, voltou a falar com as pessoas que mais falta lhe faziam. A acordar cedo, a ir comprar o jornal, que mais tarde entregava ao velho vizinho, em troca de um cigarro. Sentava-se então, à noite, no pequeno recanto da varanda, agora poeirento, e fumava-o, sem pressas, sem preocupações, tinha a pele queimada e os olhos mais claros, sentia-se renovado, recarregado de energia, de calma e paciência. Quando acabou o demorado cigarro foi-se deitar, e passou a mão pela parede verde da casa, nunca ninguém soube, nem sequer chegaram a desconfiar, mas aquela pequena carícia foi o maior sinal de agradecimento que ele alguma vez prestara à casa que tanto ama, e que tanta falta lhe faz, quando longe se encontra.


És, e serás sempre, um santuário inacabado.
Efgarestonn!

9.8.09

Strange thing called you

Sentado na sala, desfolho um livro a escassos centímetros dos olhos, desatentos e preocupados, fugindo constantemente para o ecrã do telemóvel, para aquele instrumento tão estranhamente familiar, estranho porque embora tenha sempre sido acompanhado por um, nunca me adaptei aquele pequeno ser electrónico. Devo ser anormal, tu bem o dizes! A verdade é que nunca me adaptei a este fiel amigo que sempre me acompanhou e ao qual sempre me socorri nas alturas de perigo iminente. Sempre dei pouca importância aos que realmente se preocupam comigo, apoiando-me naqueles que acabam sempre por me deixar sozinho, que só me ligam quando precisam de ajuda para alguma coisa ou porque tiveram um ataque de nostalgia. Sim, deve ser por isso que me afeiçoei tanto a ti, a essa estranha personalidade que tanto me atrai, porque mais cedo ou mais tarde deixar-me-ás sozinho, sem um aviso, sem um telefonema, sem uma mensagem, como a que espero ansiosamente receber, e que nunca mais chega, será que se perdeu? Ou simplesmente não chegou a ser enviada?
Continuo desfolhando o pequeno livro, com uma velocidade superior à prevista pelos meus olhos, que continuam impregnados no pequeno ecrã escuro, esperando notícias tuas. Noticias de um vulto que me assombra a mente e fala comigo quando mais preciso, chego mesmo a pensar se existes na realidade ou se o meu telemóvel ganhou vida própria?! O livro já não tinha mais páginas para desfolhar e, no entanto, ainda nada sabia de ti, recomecei a desfolha-lho novamente, de uma maneira mais lenta e nervosa. Não iria ser o primeiro a quebrar o gelo. Não! Estava fora de questão! Não mereces isso, pelo menos ainda!
Finalmente ele vibra e dirijo-me com fervor ao meu fiel amigo, que novamente não me deixou ficar mal. Eras tu, com um simples “hey”, uma palavra que nem comprimento tem para ser designada como tal, mas não me afligi, pelo contrário! Aquele hey era diferente de todos os outros até agora, aquela simples junção de três simples letras vinha unida com um longo significado por trás, vinha com o peso de quem deixou o orgulho de parte e isso, para mim, contava por muitas das nossas conversas intermináveis.
És a pessoa mais estranha que conheço, atrevo-me mesmo a dizer que és um pouco radical, no entanto, somos pessoas demasiado diferentes para te julgar como tal, até porque nunca te olhei com os meus próprios olhos nem te toquei com as minhas próprias mãos, nem sequer tive a oportunidade de te beijar e acariciar-te os lábios como eu tanto gosto, e tu não!
Sei que estavas à espera que aqui deixasse vestígios, pequenas pistas do que poderás eventualmente significar para mim, mas não, não o farei, porque sei que, se não o fizer, serás a pessoa mais irritada do mundo, e eu sou assim, a teus olhos, irritante.


E sabes que mais, até gosto de o ser, quebro a (nossa) monotonia.

6.8.09

Overdose

"There are some days when I think I'm going to die from an overdose of satisfaction"
Salvador Dali
Today is one of those days!

3.8.09

No teu deserto

Hoje já ninguém vai ao nosso deserto, Cláudia. Os fundamentalistas islâmicos, como os de Laghouat, tornaram-se sanguinários e incontroláveis e os próprios tuaregues revoltaram-se contra o poder de Argel.
Mas a razão principal nem é essa. A razão principal é que já não há muita gente que tenha tempo a perder com o deserto. Não sabem para que serve e, quando me perguntam o que há lá e eu respondo "nada", eles riscam mentalmente essa viagem dos seus projectos. Viajam antes em massa para onde toda a gente vai e todos se encontram. As coisas mudaram, Cláudia! Todos têm terror do silêncio e da solidão e vivem a bombardear-se de telefonemas, mensagens escritas, mails e contactos no Facebook e nas redes sociais da Net, onde se oferecem como amigos a quem nunca viram na vida. Em vez do silêncio, falam sem cessar; em vez de se encontrarem, contactam-se, para não perder tempo; em vez de se descobrirem, expõem-se logo por inteiro: fotografias deles dos filhos, das férias na neve e das festas de amigos em casa, a biografia das suas vidas, com amores antigos e actuais. E todos são bonitos, jovens, divertidos, "leves", disponiveis, sensiveis e interessantes. E por isso é que vivem esta estranha vida: porque, muito embora julguem poder ter o mundo aos pés, não aguentam nem um dia de solidão. Eis porque já não há ninguém para atravessar o deserto. Ninguém capaz de enfrentar toda aquela solidão.
Eu próprio não creio que lá volte mais. A menos que tu descesses das estrelas e quisesses vir comigo outra vez. Que pudéssemos ambos apagar todo o mal, todos os danos e todos os enganos, todos os anos perdidos que ficaram para trás, desde essa manhã límpida nas águas de Gibraltar.
Mas eu sei que não há regresso: eu mesmo to disse.
Miguel Sousa Tavares

30.7.09

Janelar


A palavra janelar é daquelas que poucos conhecem e raros utilizam, mas significa algo que muitos praticam: passar a vida à janela.
Eu confesso ser um de tantos janeleiros frustrados, a quem a impetuosa corrida das horas impede fruir tão vagaroso passatempo. Talvez por isso sinto a janela como coisa aliciante, ora remanso ora agitação, copiosa bica de beber surpresas.
Através dela chegam até nós a alegria e o conforto da luz, mas também acontece tocar-nos o cinzento triste de um dia de frio. Tanto conseguimos encará-la ao bulício como com ela nos encerramos no silêncio. Aberta pode combater o egoísmo, fechada consegue exacerbá-lo. Tem a magia de ser ponte para o mundo exterior ou transformar-se em muralha do nosso íntimo mundo.
A janela é, em suma, o fascínio do exercício de contradições que se completam, mas que não se deixam usar ao mesmo tempo.
Quinzenalmente é-me proporcionado assomar a este caixilho do canto da página, janela com vista para as realidades e para os sonhos. Hoje, no relance escrito, volto-me para o lado real.
De repente, desta minha janela descortino outra, fechada, que me parece estranha. Cesso a deambulação e ali me fixo. Por detrás dos vidros, uma senhora idosa, olhos cerrados, como quem dorme um sono tranquilo. Sinto que já está assim há dias, imóvel à janela. Descanso demasiado longo, mesmo para uma vida longa de cansaços. E de facto não dorme esta velha senhora, está morta! Morrer assim, encostada à janela, onde foi consumindo as horas seguidas de dias sem sentido.
Como companhia só a solidão. Como estimulo apenas as imagens que entravam naquela janela, cada vez mais frouxas no olhar cada vez mais ténue, até que se extinguiu… Cá fora a vida continua, impávida, a pulsar, sem se dar conta da morte na janela.
E assim foi, nesta busca leve, neste rápido relance, que descobri um novo significado da palavra janelar: esperar a morte à janela.


Jorge Castilho


26.7.09

Lisboa


A capital é a imagem de um país, uma sobreposição de tempos e velocidades, um tempo lento, analógico, a cheirar a ginja e a caracóis, sobrevivendo aos grandes debates e planos para a insaciável nação. É um tempo tenaz que se perpetua nos edifícios, nas calçadas medievais, nos trilhos de eléctricos, nas praças simétricas, nas fiéis gaivotas… Cidade que exalta o típico, o popular, o antigo, mas também a novidade e a tecnologia, celebrando a arquitectura e os engenhos pioneiros e universais.
E o rio, o sempre presente rio, imenso e irreal na sua majestade, simbolicamente definindo a amplitude do destino português.
Lisboa, velha cidade, erguida frente ao Tejo, ancorada numa colina, mais tarde multiplicada por sete. Destino marcado pela colonização romana e árabe, e pela brandura de um rio vocacionado para levar e trazer gentes, cujas margens um vento ameno fecunda a típica felicidade e azáfama da vida citadina.


Serás sempre a terceira, prometo@

22.7.09

Danger: Freedom

Passaram-se horas, talvez dias, não sei bem, sou apenas corpo, massa, objecto, a alma ficou para trás a partir do momento em que forçou o acelerador e fomos sugados para outra dimensão. De repente, estávamos ali, estagnados, e a paisagem fugia de nós a uma velocidade exorbitante, as árvores tornaram-se simples postes, os carros corriam para trás e as pessoas eram meras sombras que escoriavam a cidade branca.
Não senti qualquer receio, nenhum arrepio me percorreu a espinha e o suor provocado pelo calor sufocante voava pelo vento a fora. Não sei a quanto íamos, confiava nela a cento e um porcento e como tal distraia-me ao ver a tão familiar paisagem tornar-se abstracta á medida que descíamos a avenida em direcção ao rio, voávamos tão rápido que os pensamentos de medo e o instinto de sobrevivência não nos acompanhavam e, como tal, não senti qualquer remorso pela loucura que cometia, embora os meus olhos me mostrassem que a cada segundo que passava, o perigo que corria aumentava e que voávamos cada vez mais depressa, a mente não parecia compreender tal linguagem, e eu não me preocupei em traduzi-la.
As duas grossas rodas já mal tocavam no asfalto ardente, sentia-me totalmente livre, mais do que outrora sentira, uma estranha sensação, aquele formigueiro proveniente das entranhas mais profundas do meu leve corpo subiu até à garganta seca, era mais emocionante do que qualquer revolução, mais emocionante que uma guerra pela independência, mais tentador que uma maçã sumarenta e carnuda, mais reconfortante que um divã forrado de veludo escarlate. Era a verdadeira acepção da palavra liberdade, voar sem fazer esforço, um grito no vácuo, uma leveza igualada à queda de uma folha de plátano que alcança o chão com uma graciosidade e reconforto únicos, era eu, sentado naquele banco de camurça escura, agarrado ao desconhecido, sem pensamentos, sem palavras, apenas sensações, aquela que muitos procuram, poucos a encontram e raros a alcançam, descobri a cura para a pressão citadina, para a preocupação constante e para a vida desenfreada, o perigo da liberdade!

21.7.09

Black Button

Passeava lentamente pela avenida, amuado, sozinho. Estava um final de tarde ventoso mas quente, gastava a sola dos sapatos enquanto vagueava pelo parque fresco, as folhas iam-se soltando dos plátanos à medida que o vento as despia com gentileza e subtilidade. Sentei-me no banco velho e partido, onde outrora gerações de Pinto Lobato se haviam sentado.
Observava, com os olhos húmidos, a casa onde iria morar, naquela cidade tão grande, tão movimentada, tão cheia, tão barulhenta. Além disso, na casa antiga via o mar desde a Serra até à Ponte, ali via apenas o jardim arranjado do Campo Grande, pessoas bem vestidas a passearem os pedigrees e carros de vidros fumados a passarem violentamente pela avenida fora. Não queria isso, queria o mar, queria o pequeno prado perto do prédio onde conseguia sempre, após um choro muito bem encenado, dar de comer às vacas malhadas e aos cavalos selvagens, desejava voltar a sair pela porta e descer pela pequena rua arborizada até ao café onde todos me conheciam, comprar um chupa estalitos por 100 escudos e voltar para casa a saltitar, enquanto sentia a língua em fogo-de-artifício constante. Aqui, ao sair da porta, deparava-me com 50 metros de alcatrão onde uma maratona interminável de carros passava a toda a hora e, em segundo plano daquele cenário tristonho e monótono, um parque enorme com aspecto selvagem e hostil, o parque onde estava sentado, no banco onde todos os do meu sangue haviam sentado, em dias frescos e cheirosos, em dias escaldantes e ventosos, em dias abafados e chuvosos.
A verdade é que a casa era um palácio de um só andar, uma réplica barata de Versalhes, decorado ao estilo dos anos 50, onde parou no tempo, sendo trocado por umas águas furtadas na Boulevard de Coucelle, 5ºD, Paris. Achava piada aos grandes candeeiros de cristal, aos papeis de parede decorados com quadros de dimensões diversas, aos cadeirões Luís XIV, aos moveis de pau-brasil e, sem duvida, aos pequenos botões pretos juntos das camas, onde chamava a empregada da cozinha. Mas, mesmo assim, continuava a sentir falta do cheiro a maresia sempre que a maré mudava e da terra molhada sempre que caia um aguaceiro torrencial.
Baixei a cabeça e deixei que os olhos libertassem a água que desfocava a imagem que não queria conhecer, fiquei assim durante bastante tempo, a libertar toda a nostalgia patente em mim, naquele banco de jardim, onde já tantos como eu haviam chorado. Oiço um supiro e uma mão quente a limpa-me as lágrimas da cara rosada. Nem sequer abri os olhos, aquela mão era-me demasiado familiar, pertencia a quem eu mais amava, a um Pinto Lobato. Sabia que as feições da sua cara apresentavam um tom demasiado preocupado, odiava ver-me triste, independentemente da situação, fazia das tripas coração para me tornar no filho mais realizado e mimado do Mundo, e talvez por isso eu nunca tivesse mostrado o meu desagrado em ir morar para o palácio, porque para ele aquilo era mais do que um pequeno palácio, era a sua infância, parte da sua vida, parte da sua felicidade!
Abri os olhos e as duas últimas gotas escorreram pela pele, ressequida de tanta lágrima, olhei para ele e pedi-lhe desculpa. Ele sorriu e deu-me a mão, empurrando-me com suavidade para dentro do carro, seguíamos para a nova casa, uma outra nova casa, no local onde sempre vivera, onde sempre sonhara!

Hoje, 12 anos mais tarde, volto à casa, dias antes de ser entregue a novos donos, a novas gentes com novas tradições. Abro a porta e deparo-me com o pequeno hall revestido a espelho, reflectindo o chão de mármore branco que se prolongava até à sala de fumo, do outro lado da casa. Rumo em direcção ao corredor dos quartos, e paro na última porta, respiro fundo e encosto uma mão na porta, empurrando-a lentamente. O quarto estava exactamente como o deixara, a cama de madeira escura no meio do quarto, com cortinas transparentes a ladeá-lo, a mobília intacta, presa no tempo e queimada pelo sol que entrava pelas grandes janelas da varanda. Percorro com precaução o chão vazio do quarto e sento-me na cama, perto da mesa-de-cabeceira, onde o candeeiro do cão de roupão turco segurava a pistola, tinha um carinho especial por aquele ser assustador. Passei-lhe a mão ao de leve e, enquanto lhe retirava o escasso pó que tinha, descobri o pequeno botão preto com que tanto brincava, um calafrio percorreu-me o corpo e lembrei-me do quanto o venerava. A minha mão avançava para o botão, como querendo revivê-lo. Ao pressioná-lo oiço uma campainha ao fundo, na cozinha, a ribombar. Sorri para mim mesmo, e para o cãozinho da mesa-de-cabeceira, sabia que ele já tinha assistido aquilo vezes sem conta, era engraçado como agora sentia saudades daquilo, daquele pequeno palácio onde nunca fora rei, porque nunca o desejara. Desliguei o cão da ficha, levantei-o com cautela da mesa, receando de que se partisse em bocadinhos, e levei-o debaixo do braço até uma nova casa, até à minha verdadeira casa, no local onde sempre vivera, onde sempre sonhara!