24.9.09

Em cima do joelho

Estou cheio de trabalho, amanhã o dia começa cedo, como todos os outros, e acaba tarde, como todos os outros, vou morrer de sono na primeira aula e ressuscitar esfomeado na última. Vou acordar de manhã e dizer para mim mesmo que deixarei de fumar nesse mesmo dia, mas essa promessa acaba no preciso momento em que toca para o intervalo, e toda a gente corre para as mochilas e saca dos seus “nites”. Sou influenciável? Não, com certeza! Sou estúpido? Sim, com certeza!
Continuo cheio de trabalho, mas continuo a escrever, e nem sequer paro para reler o que disse, os erros ficam e as palavras a mais apagar-se-ão sozinhas, não há tempo para nada! Acordo à pressa, como à pressa, tenho aulas à pressa, chego a casa à pressa, tomo banho e janto à pressa, e agora?! Agora, quando a secretária se encontra cheia de livros e folhinhas brancas com os: a fazer, onde está a pressa? foi-se, coitada, devia estar com pressa para chegar a casa e alimentar a família, deve ter uma família enorme, uma família de pressas porque, nos escassos momentos em que a pressa não tem tanta pressa como eu e acaba por me perder, vejo que toda a gente corre, e que outras pressas atordoam outras gentes, afinal ela não me persegue só a mim, e sinto-me maníaco por ter a mania da perseguição. Sou egocêntrico? Não, com certeza! Sou estúpido? Sim, com certeza!
A verdade é que o trabalho continua todo em cima da secretária, mas eu sou do contra, e prefiro o pacato computador aos livros, e quando o computador perder o interesse corro para fora do quarto, escapando com bastante agilidade à rasteira que, com toda a certeza, a secretária me vai fazer, apanho o telemóvel e assim ficarei, entretido, como um puto, nas próximas horas. Sou infantil? Não, com certeza! Sou estúpido? Sim, com certeza!
E agora, agora que a pressa está a ver as novelas da noite, agora que a secretária ficou deitada no chão (o karaté ainda me serviu de alguma coisa!), agora que tenho o telemóvel na mão apercebo-me que ainda não disseste nada, e que nada vais dizer, já é tarde e os teus hábitos são tão usuais que nem sequer arrisco em ter a pequena esperança em como ainda me vais dizer qualquer coisa. Também não direi, embora saiba perfeitamente que, se hoje for o primeiro dia em que não dizemos nada um ao outro não será, certamente, o último.

Sou orgulhoso? Não, com certeza! Sou estúpido? Sim, com certeza!

5.9.09

Tudo o que acontece uma vez pode nunca mais acontecer...

... Mas tudo o que acontece duas vezes acontecerá certamente uma terceira. E ambos sabemos isso, sabemos que tudo o que se passou naquelas escassas horas, mergulhados nas águas escuras do atlântico, reflexo do céu carregado de nuvens, aconteceu duas vezes. E duas vezes esperava que chovesse, mas não que fossem os teus olhos a choverem, queria mais água fria a bater-me na cara, e não as tuas lágrimas salgadas a latejarem-me o coração. Tenho a estranha sensação de que só falamos por falar, porque já está enraizado em nós, e sei que, se não nos cansarmos de tanto falar, acabamos por nos cansar do silêncio, mas não arranjamos um meio-termo, nunca arranjámos. E eu afoguei-me, de ti e dos teus problemas, que tanto me fascinam e enervam.
Sempre que me deito na cama, sempre que mergulho na escuridão, com tanto medo como quando mergulho nas águas escuras do atlântico, penso em ti, penso em nós, penso nos teus problemas e o quão fácil a tua vida é, penso no que podíamos um dia ter sido e no que somos na realidade, penso no que fiz mal e no mal que tu fizeste, penso na vida, penso na morte, penso na morte depois da vida e na vida depois da morte, enfureço-me, dou um murro na parede e as coisas acalmam, depois da tempestade vem a bonança, sempre assim aconteceu, acontece com a vida, com as águas escuras do atlântico e connosco.
Quero ser mais do que teu amigo, mais do que teu confidente, e quando um homem quer muito uma coisa, todo o universo conspira para que possa realizá-la. Então porque que ela não acontece, será que não sou um verdadeiro homem? Ou não vivo no verdadeiro universo?
Tentei dispersar-me de ti, vivi a vida a correr, para que o tempo passasse mais depressa, porque quando as pessoas vivem a correr, o tempo acelera, porque o tempo não é nada mais, nada menos do que a maneira como nós o disponibilizamos, e eu fazia questão de nunca ter tempo para nada.
Mas foi tudo em vão, continuo a amar-te. O que isso significa para mim? Tudo. Para ti? Nada.

2.9.09

Portugal aos Portugueses

Um emigrante de Angola chega a Portugal - Lisboa!
No seu primeiro dia, decide sair e ver os arredores da sua nova cidade. Andando rua abaixo em Lisboa, pára a primeira pessoa que vê e diz: "Obrigado senhor português por me permitir estar neste país onde me deram casa e comida grátis, seguro, médico e educação grátis, obrigado". A pessoa sorri e reponde: "Sinto muito mas eu sou ucraniano!" O Angolano continua rua abaixo e encontra outro que caminhava na sua direcção e diz: "Senhor português, obrigado por este país tão belo que é Portugal". A pessoa responde: "Sinto muito mas eu não sou português, sou brasileiro". O Angolano continua o seu caminho e dirige-se à próxima pessoa que vê na rua, cumprimenta-o e diz: "Obrigado por este país tão belo que é Portugal". A pessoa após o cumprimentar diz: "Muito bem mas eu não sou português sou Marroquino". O Angolano continua o seu caminho e finalmente vê uma senhora morena e mais ou menos bem vestida que vem a seu encontro e pergunta: "Você é portuguesa?" A mulher sorri e diz: "Não, sou cigana e sou romena". Estranho e confuso o angolano pergunta: "Mas onde estão os portugueses?" A cigana olha-o de cima abaixo e reponde: "Espero que a trabalhar para nos sustentar".


"É a brincar que se dizem as verdades!"