14.11.12

A shot in the dark


Acordo de rompante.

Na memória pairava um aroma familiar, estranhamente delicioso e familiar, acrescido por um sorriso malicioso em resposta ao olhar tenro e seguro: demasiado agradável para um sonho tão fugaz. Na sala as sombras moviam-se ao ritmo das labaredas que saltavam da lareira, pairava aquele ambiente nostálgico e solene dos dias de inverno: lareira ligada, janelas abertas mostrando no seu reflexo a sala vazia e o sofá coberto de mantas, de almofadas e de mim, estarrecido e vencido pela exaustão de mais um dia de estudos infindáveis.

A neblina entra morosamente jardim a dentro vinda do mar agitado Deslizam pelos vidros, aquecidos pela casa, pequenas gotas de humidade, está tanto frio lá fora. E, de repente, mais um momento de apreensão, mas quem era?

À semelhança da paisagem circundante, enquanto as pequenas cutículas criam, lentamente, formas estranhas e fantasmagóricas pelas janelas, o pensamento vai-se desenvolvendo e a mente acordando, está mesmo frio lá fora. E, de repente, mais um momento de apreensão, mas onde estava?
              
Esforço em vão a cabeça atordoada, no ar ainda paira aquele cheiro inconscientemente delicioso que sacia a mente e embala o coração. Como uma sirene constante, o vento ribomba nas portadas e desperta-me o resto do corpo dormente, está tanto frio lá fora. E, de repente, uma sensação de plenitude, de perpétuo, de uno e indivisível.

E, de repente, a humidade nas janelas, o vento nas portadas, o frio lá de fora e o calor aconchegante de um quarto aquecido pelas mantas e almofadas.

E, de repente, um anoitecer antecipado de Inverno.

E, de repente, um esgalhar de olhos, um momento de iluminação e um suspiro, logo e prolongado.

Agora lembro-me,

Eras tu.

Às vezes,

Faltas-me.