A palavra janelar é daquelas que poucos conhecem e raros utilizam, mas significa algo que muitos praticam: passar a vida à janela.
Eu confesso ser um de tantos janeleiros frustrados, a quem a impetuosa corrida das horas impede fruir tão vagaroso passatempo. Talvez por isso sinto a janela como coisa aliciante, ora remanso ora agitação, copiosa bica de beber surpresas.
Através dela chegam até nós a alegria e o conforto da luz, mas também acontece tocar-nos o cinzento triste de um dia de frio. Tanto conseguimos encará-la ao bulício como com ela nos encerramos no silêncio. Aberta pode combater o egoísmo, fechada consegue exacerbá-lo. Tem a magia de ser ponte para o mundo exterior ou transformar-se em muralha do nosso íntimo mundo.
A janela é, em suma, o fascínio do exercício de contradições que se completam, mas que não se deixam usar ao mesmo tempo.
Quinzenalmente é-me proporcionado assomar a este caixilho do canto da página, janela com vista para as realidades e para os sonhos. Hoje, no relance escrito, volto-me para o lado real.
De repente, desta minha janela descortino outra, fechada, que me parece estranha. Cesso a deambulação e ali me fixo. Por detrás dos vidros, uma senhora idosa, olhos cerrados, como quem dorme um sono tranquilo. Sinto que já está assim há dias, imóvel à janela. Descanso demasiado longo, mesmo para uma vida longa de cansaços. E de facto não dorme esta velha senhora, está morta! Morrer assim, encostada à janela, onde foi consumindo as horas seguidas de dias sem sentido.
Como companhia só a solidão. Como estimulo apenas as imagens que entravam naquela janela, cada vez mais frouxas no olhar cada vez mais ténue, até que se extinguiu… Cá fora a vida continua, impávida, a pulsar, sem se dar conta da morte na janela.
E assim foi, nesta busca leve, neste rápido relance, que descobri um novo significado da palavra janelar: esperar a morte à janela.
Eu confesso ser um de tantos janeleiros frustrados, a quem a impetuosa corrida das horas impede fruir tão vagaroso passatempo. Talvez por isso sinto a janela como coisa aliciante, ora remanso ora agitação, copiosa bica de beber surpresas.
Através dela chegam até nós a alegria e o conforto da luz, mas também acontece tocar-nos o cinzento triste de um dia de frio. Tanto conseguimos encará-la ao bulício como com ela nos encerramos no silêncio. Aberta pode combater o egoísmo, fechada consegue exacerbá-lo. Tem a magia de ser ponte para o mundo exterior ou transformar-se em muralha do nosso íntimo mundo.
A janela é, em suma, o fascínio do exercício de contradições que se completam, mas que não se deixam usar ao mesmo tempo.
Quinzenalmente é-me proporcionado assomar a este caixilho do canto da página, janela com vista para as realidades e para os sonhos. Hoje, no relance escrito, volto-me para o lado real.
De repente, desta minha janela descortino outra, fechada, que me parece estranha. Cesso a deambulação e ali me fixo. Por detrás dos vidros, uma senhora idosa, olhos cerrados, como quem dorme um sono tranquilo. Sinto que já está assim há dias, imóvel à janela. Descanso demasiado longo, mesmo para uma vida longa de cansaços. E de facto não dorme esta velha senhora, está morta! Morrer assim, encostada à janela, onde foi consumindo as horas seguidas de dias sem sentido.
Como companhia só a solidão. Como estimulo apenas as imagens que entravam naquela janela, cada vez mais frouxas no olhar cada vez mais ténue, até que se extinguiu… Cá fora a vida continua, impávida, a pulsar, sem se dar conta da morte na janela.
E assim foi, nesta busca leve, neste rápido relance, que descobri um novo significado da palavra janelar: esperar a morte à janela.
Jorge Castilho
este foi um dos primeiros textos que me mostraste.. lembro-me very well! e só tenho a dizer, o que sempre te digo: brilhante! é uma realidade muito comum no nosso país
ResponderEliminar@
Gostei muito do fim. Arrebatador.
ResponderEliminarBeijinho
eu ca sabia que conhecia isto ricardito... é de jorge castilho 8-)
ResponderEliminarhttp://janelar.blogs.sapo.pt/228345.html
xD
sampi