16.2.11

Para grandes males, grandes remédios

Há dias em que o desgosto é tal que se assemelha a caminhar por um rio gelado e, por mais que me tente abstrair, há sempre o perigo de cair dentro deste rio onde congelei todos os sentimentos.

Nesses dias intermináveis escrevo sem parar largos textos sem sentido em papel de cozinha, guardanapos, folhas soltas, individuais, blocos de notas, post-its, tudo o que aparece e que serve para atenuar este grito pendente na minha garganta inflamada de dor e saudade; nesses dias sinto a falta do teu cheiro na minha roupa, da tua voz, de te ver de óculos, dos teus lábios roçarem os meus e de te beijar o pescoço; nesses dias dou por mim a chorar no carro enquanto oiço na rádio alguma música lamechas; nesses dias rodeio-me de multidões mas era contigo que queria estar; nesses dias não vejo nem oiço nada, e creio que ninguém se esforça por me perceber.

É nesses dias que mais penso em ti, o ar torna-se rarefeito e pesado, abro a boca o máximo possível e inspiro com força mas em vão, o ar continua a faltar e o corpo treme, treme sem parar e começo a suar. Aperto a cara com as mãos na esperança de tomar o fôlego, mas é tarde de mais, o gelo racha debaixo de mim.

É nesses dias que vasculho tudo o que me resta teu, todas as lembranças que me deixaste ao longo da nossa história. Para finalizar todos os restos da nossa vida, leio o email que me mandaste na primeira noite de Fevereiro… então, todo o desgosto, nostalgia e saudade desaparecem e o ar torna-se leve e respirável outra vez...

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