4.10.10

Cahier de Mémoires

Foi hoje, num momento de deseperante tédio que decidi reabrir a caixa da nostalgia onde os mais antigos textos das mais antigas lembranças se encontram, descobri nesta caixa virtual um sonho de infância: um breve começo de um livro da minha autoria, uma pseudo-auto-biografia passada numa antiga casa de veraneio da família Pinto Lobato. A imaginação foi-se escasseando, assim como o tempo. No entanto, aqui vai um cheirinho de algo que me roubou horas e horas da minha adolescência:

"Todas as quintas-feiras ele refugiava-se na sala de estar, abria os janelões que davam para o grande relvado em frente à sua casa, desfrutava do saboroso cheiro dos vasos de lavanda espalhados pela tijoleira de xisto e dos canteiros de alecrim e alfazema que formavam corredores até ao rio, fresco e cristalino. Todas as quintas-feiras, após sentir-se cansado de observar tanta beleza, de saborear tão conhecidos cheiros e de ouvir o rio, Salvador ligava o iPod à antiga aparelhagem da sala e sentava-se no tapete castanho, forrava-o de almofadas de algodão e de penas e aí se entretinha, durante as longas horas da tarde até ao crepúsculo, a ler livros centenários que roubava da biblioteca, dois andares acima dele."

Hoje a indescritível sensação que tive ao ler o primeiro e único capítulo despertou em mim a insaciável vontade de concretizar este tal sonho há tanto guardado em memórias difusas. Hoje recomecei algo que nunca devia ter parado...

3 comentários:

  1. "souvenirs d'un autre monde" como gosto de chamar coisas do passado :)

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  2. nunca (e sublinho nunca a encarnado) percas o gosto pela escrita. é dos melhores e mais bonitos que tens! @

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