11.5.10

Long time no see

Já todos dormiam no sofá, demasiado confortável até para o mais resistente a uma directa após um dia fatigante no dolce fare niente. Era dos poucos sobreviventes de uma razia nostálgica que invadiu os corpos dos que lá se encontravam, levantei-me e fechei com força os olhos numa tentativa frustrada de os esbugalhar de seguida. Quando finalmente os voltei a abrir a imagem desfocada do elenco pareceu-me mais nítida, notei que nem todos dormiam e que afinal, havia mais sobreviventes do que as minhas estatísticas supunham.
Uma gargalhada hilariante soltou-se dos lábios quando observei com olhos de ver as caras dos que dormiam ferrados, de bocas abertas com fiozinhos de baba, roncares suaves e posições estranhas. Os sobreviventes olharam para mim e perceberam o que me ia na mente, levantaram-se rapidamente receando serem absorvidos pela nostalgia patente na sala abafada e saímos para a noite escura, fria e hostil. Os olhos rapidamente se habituaram ao breu do campo e seguimos em frente, sem receios, em direcção ao nascer do sol.
Éramos sete, um grupo homogéneo, transparente, entrelaçado em si mesmo agradecendo ao frio por proporcionar tal sensação de união. Rastejávamos até ao cais da lagoa lamacenta, contado historias e rindo de piadas gastas pelo tempo. Não percebi se demorámos apenas cinco minutos ou meia hora, o tempo naquele local tão familiar e simultaneamente tão exótico era assunto secundário ao qual dava a menor importância que o meu organismo permitisse, as nossas gargalhadas ecoavam pelas pradarias fora e os nossos pés espantavam o pó envolvente, deixando marcas no chão arenoso.


Chegado ao porto, deitamo-nos no chão cimentado, observando a luz alaranjada a sobrevoar as montanhas a Este, em breve seria dia e nós, deitados uns em cima dos outros, iríamos assistir ao nascer do sol, a esse espectáculo inexplicável, incomparável. Observávamos com atenção o clarear do dia, o movimento das sombras pela paisagem amarelada, desidratada. Era um filme que rolava à nossa frente, de uma maneira pacífica, acolhedora, alegre. Voltei a fechar os olhos, cansados, dormentes, e só os abri quando uma luz estonteante apareceu imponente no cimo das montanhas. Novamente, não me apercebi se foram apenas cinco minutos ou meia hora, o tempo aqui era coisa inconstante, ora passava velozmente, ora dançava lentamente ao sabor da brisa alentejana.
Aquela imagem tornou-se adrenalina e o corpo estagnado queria agora correr, mexer-se, conhecer limites. Olhei para ela e disse-lhe, do mais profundo e sincero possível: “O melhor Alentejo de sempre!”. Ela sorriu, mostrando o seu sorriso tão familiar e respondeu-me, massajando-me o cabelo: “Sem dúvida, o Melhor!”

dedicado a Mariana Proença, muito mais que uma amiga,

uma companheira de vida

1 comentário:

  1. já vi este texto magnifico em algum lado.. (chegaste a por este no meu blog, lol)
    este sim, está cheio de vida :) @

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