21.12.12

Rascunho


É Dezembro, chove a potes, tenho alergia e faz frio.

                As coisas mudam depressa: dezembro escreve-se agora com letra minúscula, a chuva estancou e a lua surgiu enorme e cheia esquivando-se das nuvens, mudei de anti alérgico (ao qual fiz alergia – sempre positivo!), e o frio foi esquecido quando te despiste morosamente frente a mim e te moldaste ao meu corpo, nessa cama acolhedora e demasiado mole para o meu estranho requinte.
                Quando aquela sensação de borboletas no estômago te ataca de rompante, como se ingerisses dois litros de coca-cola seguidos e devorasses um pacote de mentos de seguida, uma explosão de adrenalina, de desejos carnais, de directas sobre directas ao embalo de histórias de amores antepassados, monarcas e republicanos, reparas que as coisas mudam depressa e que depressa te tornas numa pessoa diferente, não na matéria, na carne e osso, mas no sentimento, na preocupação, na alma.
                Nesse museu de séculos passados ao qual chamas casa, um sentimento vai nascendo, ardendo sem se ver, beijos suaves prolongam-se pela noite fora até de madrugada, mãos desvendam o desconhecido, o dia nasce e o sentimento aumenta. Uma pausa, um cigarro na varanda. Lá fora, o silêncio do desconhecido até ao mar infinito.
                Agora acho que estou pronto, que ribombem os tambores e lancem os confettis. Vem, chega e leva-me para longe. Deixa-me saber o que te atormenta. Vem, chega e leva-me para longe. Vem viver a minha vida, curtir de noite e dia, posso-te descrever com quantas palavras quiseres. Coloca a realidade de parte e vive este sonho, leva-lo para onde vais e leva-me a mim também. Diz-me que também sentes esta vibração, vem viver a minha vida, curtir de noite e dia. 

Perdi as palavras.
Ou talvez as tenha levado para outro local, quiçá.

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