Aviso: texto longo e um tanto esquizofrénico
A meio do jogo perguntaste-me quantos pontos eram necessários para me convidar para um café, ao que respondi que pontos não eram necessários mas sim coragem. Dois dias demoraste a encontrá-la e encaixaste-a numa mensagem que, ao fim de alguns momentos de ponderação, recebeu o meu consentimento.
O local não podia estar mais bem escolhido para o cliché do primeiro encontro, um pequeno café num dos milhentos miradouros de Lisboa, rodeado de palmeiras centenárias, com mesas de ferro forjado e vista para o Tejo, aquecido pelo pôr-do-sol de Inverno. A conversa decorria às mil maravilhas; ao contrário do que esperava, fizeste questão de não seguir o típico guião de todos os primeiros encontros, algo que, do meu ponto de vista, foi um tanto ousado e surpreendentemente bem sucedido!
Nessa tua face pálida, rasgada por lábios carnudos e dentes perfeitos encontrei o meu primeiro fascínio: os teus olhos, verdes e brilhantes, enormes e inebriantes, um ar angelical ao qual davas o toque perfeito, usando boina sobre os cabelos negros encaracolados.
Ao longo dessa amena tarde de Março levaste-me a sítios inimagináveis: cafés austríacos, salões literários, grémios e ainda a miradouros com vistas que nunca julguei existirem. Era como se não só estivesse a conhecer uma nova pessoa, como uma nova cidade, qual magia de Paris, Lisboa ostentava toda a beleza de uma cidade deitada à beira rio com a particularidade de hospedar a perfeição neste labirinto de telha e calcário: tu.
Enquanto fumavas cigarro atrás de cigarro falavas de literatura internacional e de viagens de trabalho, aos intermináveis diálogos juntavas expressões idiomáticas francesas e alemãs, sorrias sempre que me olhavas de soslaio e observavas o meu olhar de espantado. Essa tua capacidade única de me fascinar em época tão difícil foi o maior escudo que encontrei nesta cidade onde em todos os becos se escondem lembranças…
Cais do Sodré, a despedida é morosa e apenas decisiva aquando do apito do comboio, despeço-me com saudade e corro para o trem mais próximo. Corro o mais rápido possível mas é escusado, todas as memórias e lembranças invadem-me a alma e o corpo, agora que o único escudo neste mar de gente desapareceu.
Começo a pensar no porquê? Percebo que o fascínio era apenas diversão e a saudade apenas pena, que de nada valia procurar-Te noutro ser.
Fez um mês que perdi quem mais amei por não aguentar mais viver preso no seu único e exclusivo ponto de vista, no seu mundo onde, por muito que tentasse explicar a minha face da moeda, as minhas razões, as minhas desculpas, os meus motivos, parecia que nada importava e, ao fim de inúmeras tentativas fracassadas, hasteei a bandeira branca e saí do campo de batalha, marcado pela dor e cansaço e humilhado pelo fracasso que consiste em reunir todas as forças e vontades numa relação que teimava em não funcionar.
Parede, saí do comboio e recebo uma última mensagem: és cativante. Sorriu para o visor com pena e sinto-me sem escrúpulos por deixar que um primeiro encontro chegue tão longe, será justo dar esperanças a alguém quando, na realidade, o nosso coração pertence e sempre pertencerá a outrem?
Tinha acabado de encontrar a perfeição, umas simples horas de uma tarde amena de Inverno fora o suficiente para perceber isso. Mas a verdade, a mais pura das verdades é que ansiava ser chamado para voltar ao campo de batalha!
a descrição do encontro foi o que mais me deu prazer em ler :) muito bem escrito, ricardo.
ResponderEliminarsabes que te digo? és igual a mim... TEIMOSO QUE NEM UMA PORTA! mas eu compreendo(-te).
ResponderEliminarvenham todos os pares de olhos verdes ou azuis, todos os lábios carnudos ou finos... nenhum par por mais inebriante que seja terá o brilho dos outros olhos, nenhuma boca por mais bem desenhada que seja terá a doçura dos outros lábios. e é assim a puta da vida. raramente ficamos com quem desejamos com todo o nosso ser.
a única solução é irmos (sobre)vivendo...