3.3.10

Anel de Rubi

É tarde. A casa hiberna ao ritmo da chuva que fustiga lá fora, no quarto a atmosfera é morna e acolhedora, deitado na cama observo o tecto branco que serve de tela ao cinema projectado pelos meus olhos e cujo espectador deste interminável filme sou apenas eu, só e abandonado. Levanto-me e olho através da janela, lá fora a natureza fazia questão de compadecer, exuberante e letal. Imaginei-nos ali, na noite escura e molhada, a entrar pelo velho e ferrugento portão da garagem e a dirigimo-nos para o carro dando inicio à longa volúpia sexual que nos acompanhou toda aquela noite. Fecho os olhos e ainda sinto os teus lábios perfeitos e o sabor dos teus beijos aliciantes, lembro-me da tensão sexual que nos rodeava e dos desejos que partilhávamos…

Dou meia volta e olho para o quarto, escuro e deserto. Vejo-nos na cama, na parede, na secretária, em todo o lado. Oiço gemidos e respirações ofegantes a baloiçar em sintonia com movimentos de união. O cheiro do teu perfume ainda está guardado nas mais profundas lembranças, nos mais recônditos lugares, nos mais inesquecíveis momentos.

Mas tudo é efémero e a minha paixão também o foi, um fogo que não tinha mais lenha por onde arder, porque tu deixaste de o alimentar, deixaste de deitar mais achas para a fogueira que outrora foi o meu coração. A dor de te ter perdido foi titânica, foi um vazio constante, uma mágoa eterna, um desejo infinito. Agora? Nada, não sinto nada, simplesmente nada.

"Contigo aprendi uma lição:

não se ama alguém que não ouve a mesma canção."

2 comentários:

  1. tipicamente arrebatador

    "a minha paixão por ti era um lume,
    que não tinha mais lenha por onde arder" @

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  2. like Luzita said :)

    amei ricc, muito bonito mesmo, muito bem escrito

    sampi

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